Transformações Antrópicas na Paisagem do Centro Urbano da Velha-Nova Marabá: Da década de 1980 ao novo milênio (2000), Consequências Geomorfológicas.

Valter Gama de Avelar[1]; Willian Victor de Noite Lemos[2]


[1] Doutor em Geociências e professor/pesquisador Associado III, da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP). E-mail: valtergamaavelar@gmail.com  

[2] Bacharelando em Direito na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA). E-mail: noite145@gmail.com

INTRODUÇÃO

A cidade de Marabá está localizada no sudeste do estado do Pará, na latitude: -5.3811326 e Longitude: -49.1331046, entre os cursos do Rio Itacaiúnas e do Rio Tocantins, que se cruzam logo após a área urbana do município (Figura 1). Com área territorial de 15.128 km², com altitude média de 84 m e clima tropical semiúmido. Em relação a capital do estado do Pará fica distante cerca de 500 Km (MAPASAPP, 2019). Atualmente, o município de Marabá compreende uma extensa zona urbana formada por cinco núcleos que dividem a cidade (Marabá Pioneira, Nova Marabá, Cidade Nova, São Félix e Morada Nova) (MBAAGORA, 2019).

Figura 1 – Mapa de localização do município de Marabá (retângulo vermelho, integrando a Velha Marabá, na confluência dos rios Itacaiúnas e Tocantins (no alto) e a Nova Marabá, na margem esquerda do rio Itacaiúnas.

Pertencente à região de Carajás, apresenta um grande potencial econômico baseado na área de exploração extrativista. Até o início da década de 1980 a população tinha grande foco no extrativismo vegetal, que fez a economia girar em torno de madeira, látex do caucho, da borracha e da castanha-do-pará (castanha do Brasil). Havia também extração de ouro e diamantes, que potencializaram a economia, ainda mais com a chegada de indústrias siderúrgicas de grande porte que otimizaram essa exploração, mas que ocasionaram grandes fluxos migratórios que motivaram grandes alterações na paisagem da cidade.

Por consequência, nas últimas décadas, particularmente a partir da década de 1980, o município experimentou um crescimento econômico e populacional muito acelerado, tendo inclusive que mudar seu núcleo urbano da cidade baixa ou da chamada Velha Marabá ( Figura 2).

Figura 2 – Velha Marabá. Na parte superior da imagem, a “prainha”, praia do Tucunaré, no rio Tocantins. Ao centro da foto, a praça Duque de Caxias. (Fonte: Disponível em http://www.hiroshibogea.com.br/sentei-naquele-banco-da-pracinha-so-porque/ )

As figuras 3 e 4 ilustram detalhes da revitalização recente da orla de Marabá, no rio Itacaiúnas.

Figura 3 – Orla da cidade de Marabá no período noturno, em 2015 .
Fonte: Acervo Helder Messias (XIV CBA, 2015)
Figura 4 – Aspecto da orla de Marabá, no rio Itacaiúnas, em 2015.
Fonte: Acervo Helder Messias (XIV CBA, 2015)

“No auge do setor madeireiro, na década de 1980, o município de Marabá tinha mais de 50 madeireiras. O número foi insignificante para ocupar a madeira que estava se perdendo, porque foi muito grande a devastação. Eu acredito que o madeireiro não ocupa 5% do que se perdeu” (ALMANAQUE MARABÁ 100 ANOS).

A Figura 5 ilustra detalhes de uma nova área urbana denominada Nova Marabá; Trata-se de uma cidade planejada para atender à demanda local do rápido crescimento populacional, além de a cidade ter passado pela maior enchente de sua história nessa década.

Figura 5 – Aspecto da urbanização da Nova Marabá, com detalhe da Câmara Municipal de Marabá. Fonte: Disponível em http://mbaagora.blogspot.com/2019/03/mobilidade-urbana-em-maraba-o-calcanhar.html

O rápido crescimento populacional experimentado, a partir da década de 1980, motivou inúmeras transformações na paisagem daquela área. No censo de 2010 a população contava com 233.669 habitantes, representando um adensamento demográfico de 15,45 hab/km² , segundo o IBGE, (2010). Para 2019, a contagem do IBGE aponta um total de 279.349 pessoa (IBGE, 2019), o que representa um incremento de cerca de 20% da população e um adensamento demográfico relativo de 18,5 hab/km², em menos de 10 anos. A ação humana ou antrópica/tecnológica é indutora das mudanças naturais (retirada da floresta para aberturas de vias de acessos, construções de habitações e edificações, aterramentos de vias e de áreas baixas, recorte de taludes e terraplanagem do solo).

Por sua vez, estas ações concorrem diretamente para modificações na dinâmica dos processos morfogenéticos, tais como: erosão, movimentos de massa e de talude, exposição do solo, dentre outros, atribuindo-lhes características diferentes daqueles naturais, o que torna imperativo o estudo das consequências geomorfológicas e do desenvolvimento dos processos advindos desta ação diferenciada do homem.

É notório que os processos naturais e os impactos ambientais advindos das ações antropogênicas, criam novas formas de relevo induzindo também a novas e aceleradas condições dos processos morfogênicos (erosão, transporte e deposição) vital para o planejamento do uso, ocupação e conservação de um ambiente.

Assim, na tentativa de caracterizar os impactos da ação antropogênica sobre a dinâmica dos processos geomórficos no centro urbano do município de Marabá, o presente artigo visa compreender as transformações ocasionadas na paisagem e seus efeitos geomórficos geradas naquele ambiente. Como visto, a grande transformação histórica se deu desde a década de 1980. Para elucidar tais questões, busca-se caracterizar as principais transformações antropogênicas instauradas, a partir da ocupação do centro-urbano de Marabá (Velha Marabá ou Marabá Pioneira); bem como apresentar uma visão panorâmica das modificações sofridas naquela paisagem.

Para alcançar os objetivos propostos buscou-se procedimentos qualitativos e quantitativos os quais, contribuíram para auxiliar as duas etapas em que se desenvolveu a pesquisa. A primeira, voltada ao trabalho de gabinete, contando com os levantamentos bibliográficos e documentais, sobre o tema abordado; aquisição de acervo fotográfico (fotografias desde a década de 1980 até atuais) e caracterização demográfica do município. De modo a caracterizar os processos naturais atuantes e acompanhar a ação antrópica, permitindo conhecer a evolução da ocupação e as transformações antrópicas da paisagem do lugar ao longo do tempo determinado.

A segunda etapa foi pautada no levantamento de campo através da realização de entrevistas semi-estruturadas com os moradores mais antigos do local objetivando conhecer as características da área no início da ocupação e suas transformações ao longo do tempo. Após a identificação das principais alterações ambientais decorrentes da ocupação e expansão urbana na área de estudo, foram fotografados os segmentos ao longo desta e que se tornaram mais susceptíveis às novas ações geomórficas.

Finalmente, para representação espacial utilizou-se imagens do Software Google Earth (nas datas 1980, 1990, e 2000) trabalhada no programa Corel Draw X5, delimitando estes segmentos através da construção de polígonos formados por suas áreas, acompanhados por fotos que demonstram a dinâmica dos processos geomórficos nas mesmas. Além disso, a visita de campo contribuiu para demonstrar por meio de fotos e medições (quando necessárias) os segmentos onde a ocupação é mais intensa, a relação entre esta e os processos geomórficos acelerados (erosão, movimentos de massas…), bem como o papel da cobertura vegetal na contenção ou não da erosão acelerada.

II HISTÓRICO E ASPECTOS FISIOGRÁFICOS DE MARABÁ

Etimologicamente a palavra Marabá é de origem indígena “mayr-abá”, que significa “o filho do estrangeiro com a índia” ou “fruto da índia com o branco” ou simplesmente “mameluco” (cruzamento do branco com a índia) de acordo com Ferreira (2004).

De acordo com FCCM (2005) o governador do Pará, em 1913, Enéas Martins, atendendo apelo dos cidadãos do então Distrito Judiciário de Marabá, desde 1908, criou o município de Marabá, através da lei no 1.278, de 27 de fevereiro de 1913. No dia 05 de abril de 1913, foi instalado o município de Marabá, sendo nomeado o representante legal do governador, o Cap. Pedro Peres Fontenelle, tendo com secretários os Tem. Raymundo Nonato Gaspar, prefeito em comissão, e Manoel Gonçalves de Castro. Em 1914 Marabá torna-se Sede da Comarca (Decreto no 3.057, de 27-02-1914). Em 1916 aporta o primeiro barco a motor (B/M Pedrina, do Sr. Alfredo Monção) em Marabá. Já em 1920 dá-se o início da exploração da castanha-do-pará em grande escala, coincidindo com a desvalorização do “látex do caucho”.

Em 1923, ainda de acordo com FCCM (op. cit), Marabá incorporou o território de Araguaia a sua área de abrangência. Em 1926, ocorreu a primeira grande cheia, sendo a cidade duramente castigada e destruída. Em 1927 Marabá passou a ser o maior produtor de castanha-do-pará da região tocantina. Em 1935 foi criado o aeroporto de Marabá. Naquela época a cidade contava com cerca de 460 casas, equivalentes a 1.500 habitantes. Em 1960 foi construída a rodovia Belém-Brasília o que impulsionou o comércio e a migração para a região. A partir de 1970 o governo federal institui Marabá como “área de Segurança Nacional” que vigorou até 1985. Em 1971 foi estabelecido o Projeto Integrado de Colonização (PIC) do INCRA, em Marabá. Em 1972, iniciou-se a Guerrilha do Ararguaia, que durou até 1975. Em 1980 Marabá foi atingida pela maior enchente de sua história. O rio Tocantins subiu cerca de 17,42 metros. No mesmo ano foi descoberto o Garimpo de Serra Pelada próximo daquela região.

Em 1984 foi inaugurada a Estrada de Ferro Carajás para transporte do ferro e de passageiros. Em 1988 os municípios de Parauapebas e Curionópolis foram emancipados de Marabá.  Neste mesmo ano surgiram as primeiras siderúrgicas para produção de ferro-gusa em Marabá. Já em 1994 o município de Marabá ocupava uma área de 11.243 Km2, com uma população de 140.000 habitantes, passando a 157.884 habitantes no ano de 1988.

Em 2010 o município de Marabá possuía uma população residente de 233.669 habitantes (IBGE, 2010), figurando naquela época como o quarto município mais populoso do estado do Pará, ficando atrás apenas de Belém (1.393.399 hab.); Ananindeua (471.980 hab.) e Santarém (294.580 hab.). Em 2018 a população estimada pelo IBGE foi de 275.086 habitantes (CANAÃ, 2019).

Quantos aos aspectos econômicos do município de Marabá SOUZA et al. (2017) aponta vários ciclos econômicos, sendo que até o início da década de 1980 a principal fonte da economia do município era o extrativismo vegetal (extração do látex do caucho). Houve também o ciclo do diamante (1920 a 1940) encontrados principalmente encontrados as margens do rio Tocantins. Logo em seguida, com a descoberta do Garimpo de Serra Pelada, maior província mineral do mundo, Marabá também viveu o Ciclo dos Garimpos do Ouro. Segundo os autores supra, desde o início da década de 1970 Marabá passou a vivenciar a instalação do Projeto Grande Carajás culminando posteriormente com a instalação da indústria sídero-metalúrgicas, que vem dinamizando até hoje a economia local.

A bacia hidrográfica do rio Itacaiúnas, com 390 Km de extensão, tem sua nascente na Serra da Seringa, no município de Água Azul do Norte, estado do Pará (em direção ao canto inferior esquerdo na Figura 6), e é formado pela junção dos rios Água Preta e Azul. Seus principais afluentes são os rios Madeira e Sororó. Desemboca pela margem esquerda do rio Tocantins, no perímetro urbano da cidade de Marabá (DICIONÁRIO, 2016). Nesta figura é ilustrada a posição do núcleo urbano da cidade de Marabá (Velha Marabá ou Marabá Pioneira, instalada justo na planície de inundação do rio Itacaiúnas, com o Tocantins) e a e Nova Marabá, margem esquerda do rio Itacaiúnas.


Figura  6 – Mapa ilustrando o centro urbano do município de Marabá, situada as margens dos rio Itacaiúnas e Tocantins. Detalhe do padrão meandrante do rio Itacaiúnas, afluente  pela margem esquerda do rio Tocantins.
Fonte: Disponível em https://mapasapp.com/satelite, acessado em: 15/02/2019
Balsa de Buriti: Cartografia de uma Viagem.
Fonte: POMPEU, Ulisses. BALSA DE BURITI: Cartografia de uma Viagem. Ed. Banzeiro Comunicação. 2010. 100p. il.

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Imagem de Capa do Livro: Balsa de Buriti: Cartografia de uma Viagem.
Fonte: POMPEU, Ulisses. BALSA DE BURITI: Cartografia de uma Viagem. Ed. Banzeiro Comunicação. 2010. 100p. il.

Clipe da campanha “Marabá, 104 anos – Terra de Gente que Acredita”, do Grupo Correio de Comunicação. (Fonte: Observadores Marabá,Publicado em 27 de mar de 2017
Fonte:Grupo KTV
Publicado em 12 de jan de 2017

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Como referendar este artigo:

AVELAR, Valter Gama; LEMOS, Willian Victor de Noíte. Transformações Antrópicas na Paisagem do Centro Urbano da Velha-Nova Marabá: Da década de 1980 ao novo milênio (2000), Consequências Geomorfológicas. Disponível em
https://valteravelar4geos.com/2019/04/05/transformacoes-antropogenicas-na-paisagem-do-centro-urbano-da-velha-a-nova-maraba-da-decada-de-1980-ao-novo-milenio-2000-consequencias-geomorfologicas/ . Acesso em……

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